Mete a colher sim, por favor!

Blogroll, Citizen Journalism

Agressões de mulheres e o preconceito
por Belinha Salgado
(23/01/14 Editorial do Correio Popular).

A entrevista baseada no artigo está no final do texto original sitado abaixo:

“É preciso meter a colher!

Belinha Salgado

Belinha Salgado

Há muito tempo que a sociedade debate a violência contra as mulheres, e este drama em pleno século 21 ganhou contornos inexplicáveis e de difícil solução para todos que estão diretamente envolvidos na luta contra esse câncer que se propaga. São inúmeras análises e reflexões de psicólogos, assistentes sociais, educadores, médicos, advogados, organizações não governamentais especializadas no assunto, etc, que se dedicam com afinco ao tema e mesmo assim os crimes contra as mulheres aumentam, e ainda com requintes de crueldade. Este fato nos faz indagar: por quê?

Infelizmente, apesar da mulher já ter conquistado uma série de direitos (este ano o direito ao voto feminino no Brasil completa 82 anos), a mentalidade machista ainda permanece arraigada na sociedade, quando sustenta mitos que contribuem, ou melhor, validam a violência contra as mulheres: “O amor é cego”, “bate que eu gamo”, “entre marido e mulher, não metas a colher”, “o amor não tem lei”, “no amor e na guerra vale tudo”, etc, permanecem no inconsciente coletivo e fazem a festa. E assim caminha a humanidade, perpetuando estes mitos que somente vão na contra mão da civilidade.

De todos, para mim, o mais pernicioso é o mito “entre marido e mulher, não metas a colher”. Quantas vezes assistimos calados brigas de casais, ou até mesmo de pais e filhos, amigos, e deixamos passar, não nos “intrometemos”, achando que isso é um problema particular. Está na hora de acordarmos, pois os dados e as estatísticas comprovam que a violência, assim como a drogadição tornaram-se problemas de saúde pública, verdadeiras epidemias sociais. Por isso devemos “meter a colher sim”, nos posicionar, dar nossa opinião quando muitas vezes ao nosso lado alguém sofre qualquer tipo de violência psicológica, física, moral, sexual, etc.

E quem abusa? Não existe um perfil típico, mas algumas características podem ajudar as mulheres e também as crianças a se manterem bem longe deste que atormenta e ceifa a autoestima e muitas vezes a vida de suas vítimas: em público podem até parecer amigáveis, mas já na esfera privada são verdadeiros tiranos. Todos, sem exceção possuem baixa autoestima, muitos são adeptos da arma de fogo (fazer justiça com as próprias mãos) e consumidores de álcool, ou “otras coisitas más”. São muito meticulosos, cuidadosos e tentam esconder suas personalidades frias, distantes, sociopatas. Por fim, culpam suas vítimas pelo ocorrido: “vc só está tendo isso porque não se comportou bem”.

Ainda há outra questão. O fato de que tantos homens se sentem no direito de expressar sua raiva, sendo violento com suas mulheres (a maioria das mulheres assassinadas no Brasil em 2013 foram mortas por seus companheiros ou ex-parceiros), demonstra que este comportamento foi aprendido em casa e está enraizado em nossa sociedade. Por isso, é uma questão de educação e valores.

E quem são as vítimas? Estamos aqui falando de agressões às mulheres, mas qualquer pessoa pode ser vítima! As vítimas podem ser de qualquer idade, sexo, raça, cultura, religião, educação, emprego ou estado civil. E a violência tem um ciclo. O primeiro momento é de tensão, onde quem abusa fica irritado e a comunicação e a tensão vai aumentando e o abuso pode iniciar-se; depois vem a explosão da violência, aqui o abusador parte para o ato de agressão e por fim, a Lua-de-mel: o abusador pede desculpas, faz promessas, culpa a vitima por ser causa do abuso e tenta desvalorizar a situação.

Enfim, acredito que a solução para esta situação calamitosa passa sim pelo rigor das leis, pela punição, mas principalmente pela educação de nossas crianças, pois não estamos matando a mulher do outro: são nossas mães, nossas irmãs, nossas companheiras, nossas amigas, que estão sendo mortas de forma cruel. Enfim, enquanto não houver uma mudança nesta mentalidade do “deixa disso” que ainda impera na sociedade, este mal da violência que nos assola todos os dias não terá fim. ”

– Belinha, qual foi sua fonte de dados?  Você menciona ciclo de violência o que é isso exatamente? Qual é o melhor modo de ajudar (meter a colher)? Quem pode denunciar? Como é melhor fazer isso? Onde buscar socorro?

– Olá Bom dia!

Carlos Rix, Primeiramente gostaria de agradecer esta oportunidade de falar no seu blog de um tema que há muito me interessa.

família Sou historiadora, especialista em arquivos e história da educação brasileira. Nos últimos anos tenho pesquisado muito sobre violência e drogadição, e o tema da violência contra as mulheres sempre me fascina.

Como Educadora, acredito que a violência se aprende e por isso temos que rever nossa educação, todos, escola sociedade e governo. Não é um problema privado somente das famílias, é nosso modelo de sociedade que adoeceu e “ensina” a violência.

Minhas fontes de dados são anos de leitura e artigos que mostram cotidianamente a violência contra as mulheres, os jovens, as crianças, etc. E o aumento dos crimes (e com requintes de crueldade), lotam as páginas dos jornais. Consultei para este artigo especificamente o site http://www.spm.gov.br, da Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres. No Balanço Semestral do Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher (http://www.spm.gov.br/publicacoes-teste/publicacoes/2012/balanco-semestral-ligue-180-2012), pode-se ler que as ocorrências de agressões físicas realizadas por companheiros aumentaram em 13% de 2011 para 2012; mais de 50% dos relatos são de risco de morte; filhos e filhos presenciam a violência em 65% dos casos, etc.

No que se refere ao ciclo de violência, como já explicado em meu artigo, as pessoas que sofrem agressão podem perceber desde  a 1° fase deste ciclo, que podem buscar ajuda, não “pagando pra ver”, porque com certeza, quem agride, insulta, humilha, um dia bate, ou faz coisa pior. Pra que deixar chegar nessa lamentável situação?

– Acordem mulheres!

Peçam socorro assim que perceberem alterações no seu companheiro, de atitude, na fala, nos sentimentos.

O problema é que a mulher demora pra perceber (e aceitar) que o amor acabou e acredita que vai conseguir resgatar “o seu homem”…não vai. Ele só vai piorar. Quer ler mais sobre Ciclo de Violência? Consulte:

http://www.campinas.sp.gov.br/sa/impressos/adm/FO736.pdf; http://www.pmpf.rs.gov.br/servicos/geral/files/portal/saber_violencia.pdf.

– Com certeza a melhor forma de ajudar é DENUNCIAR.

Para isso aqui em Campinas/SP você pode contar com  a Delegacia de Defesa da Mulher, na Av. Governador Pedro de Toledo, n° 1161, telefones: (19) 3242-5003 e 3242-7762.  Veja ainda outros locais onde as mulheres podem buscar acolhimento e orientação, antes de denunciar: http://www.campinas.sp.gov.br/sa/impressos/adm/FO736.pdf

– Bom dia pra vocês mulheres!

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